Já ouvi muito sobre esta história de sermos subdesenvolvidos por conta da cultura ibérica. Ouvi muito. Mas falei pouco. Então, aí vai.
1. Cultura ibérica é algo muito vago. Sabemos que os ibéricos sofreram influências dos mouros. Qual cultura é a ibérica? Hoje, portugueses e espanhóis vivem em um mundo muito mais globalizado do que em 1500. Qual é a cultura ibérica?
2. Vários historiadores já destacaram as notáveis diferenças entre portugueses e espanhóis, mesmo na construção dos respectivos impérios. Portanto, nada de conversa sobre heranças “ibéricas”.
Posto isto, ainda assim há o que se perguntar acerca do tal “path dependence” (se é que algum há) que “supostamente” teria influenciado nossa “cultura”. Eu me pergunto: Nagasaki, que sofreu forte influência do catolicismo através, justamente, da presença portuguesa, desenvolveu-se menos que o resto do Japão? E o que dizer da diferença entre Brasil e Angola? Ou Moçambique? Ou São Tomé e Príncipe?
Ok, ninguém disse que o problema era simples, mas ficou claro, espero, que podemos descartar termos imprecisos como esta tal “cultura ibérica” (ou “herança ibérica”). No mínimo, temos que considerar as especificidades portuguesas. E olhe lá.
Há um trecho, aqui, que é notável em termos de “insights” para se pensar isto.
Um império, sem dúvida, que não tinha muito a ver, na sua forma de se estrutura politicamente, com os impérios da tradição clássica europeia, nem com aquele desenvolvido pelos Espanhóis (…). Antes de mais, trata-se, não de um império terrestre, mas de um império oceânico, ou seja, de um império em que o mar já não era um limite, mas antes, o nexo essencial de união dos pontos de apoio na tera firme, o próprio corpo do império. [Hespanha & Santos, Os poderes…In: Mattoso, J. (dir) História de Portugal, vol.4, Editorial Estampa, Lisboa, p.395]
Imagine um modelo econômico que tente explicar isto. Acho que a inspiração inicial que me ocorre é este texto.
Palpites?
Claudio
Leia “Raízes do Brasil” Sergio Buarque de Holanda, caso não descubra o que é herança Ibérica comece a considerar a ideia de voltar para o ensino fundamental.
Tenha uma ótima noite.
É, Davi. Esta é a diferença entre você e outros leitores deste blog. Você leu o Sergio (e eu também li). Mas os outros sabem que ciência não é sinônimo de religião. Aprendemos isso no ensino fundamental e por isso questionamos. Talvez você deva rever sua opinião ou considere o maternal.
Olá Cláudio, eu gostaria de te citar, mas “Cláudio” me parece pouco, informal. Poderia me dar um sobrenome ao menos? Grato.
É apenas para anotações pessoais no meu caderno de Sociologia Geral e Jurídica, mas mesmo assim, gostaria de citá-lo da melhor forma.
Grande abraço.
Não é melhor citar o blog? 🙂