…o próprio mercado tem incentivos para levar o salário ao equilíbrio, certo? Errado. Ou melhor, depende. No modelo de livro-texto, do primeiro período de Economia, sim, é isso que acontece. Mas aquilo mal é um modelo, né? Super-simples, hipóteses nem sempre claras e você tem que acreditar no professor.
Há quem pense que a vida é melhor quando se sabe menos, porque, claro, você sofre menos. É a galera do obscurantismo fácil: dizem para você que não há que se preocupar com a matemática porque “o mundo é complexo demais para isso” e que “sua intuição é suficiente, só precisa ler uns autores que eu, sábio, vou te indicar, e que você tem que concordar sem pestanejar”.
Mas há quem pense que a vida é mais interessante do que a repetitiva fotossíntese. O prof. Shy, então, fez-se a mesma pergunta e fez algumas mudanças no modelo básico, pensando, creio eu, naquelas perguntas que alguns alunos lhe fizeram por anos e anos nas salas de aula, ainda que inconscientemente. Eis o resultado.
When Do Firms Prefer Low Minimum Wage Over No Minimum Wage?
Oz ShyFederal Reserve Banks – Federal Reserve Bank of Boston
Abstract:
Fascinante, não? Sabe, isso tem a ver com gorjetas. É, isso mesmo.
Shelkova (Forthcoming) provides the main empirical support for this paper. Using 1990–2002 data on service occupation workers, she shows that on average 19.3% and as much as 31% of service occupation workers who earned minimum wage or less could be affected by collusive wage-setting during this time period. Relatedly, looking at labor markets where service workers collect tips, Shy (Forthcoming) explains why restaurant owners may collectively benefit by encouraging their customers to follow the “social norm” of leaving tips. This is because the long-term (over a century) increase in tipping rates resulted in lower wage rates. (p.1-2)
Coalizão? Fixação de salários? Como assim? Pois é. Tem que ler o artigo. Mas repare que tudo começa com um mercado de trabalho imperfeito e o reconhecimento de que não se pode analisar o mercado de trabalho sem uma análise com o mercado do produto.
Como sempre digo para os alunos – os que não estão dormindo ou que não estão (ainda) catatônicos por excesso de uso de ‘zap-zap’ no celular – a Ciência Econômica é fascinante. Diante de uma evidência empírica, desenvolve-se um modelo para se explicar o evento. Obviamente, isso significa que é preciso muito cuidado para se dizer que a evidência empírica é, de fato, uma regularidade ou um “fato estilizado” com o qual valha a pena investir algum tempo teorizando.
Poderíamos ter o oposto, como é o caso da economia novo-keynesiana, que se iniciou, conta-nos Snowdon e Vane naquele livro-texto clássico (esqueci a referência agora), construindo modelos teóricos para, depois, buscar as evidências empíricas.
O que eu quero dizer é que, em última instância, ambos os procedimentos são válidos, falhos e necessários ou, sei lá, indispensáveis.
Bacana, né?