
Eu já disse aqui que uma correlação não faz verão, mas resolvi colocar este resultado aqui para despertar a curiosidade das pessoas. Então, no eixo vertical temos o último índice de liberdade econômica do Fraser Institute e, no eixo horizontal aquele índice de caridade que o pessoal gosta de discutir de vez em quando. Só, que desta vez, eu coloquei os pontos da correlação ponderados pela medida de capital humano de 2010 do Barro (Barro & Lee) que são os anos médios de estudo.
Existe uma correlação positiva entre caridade e liberdade econômica? Eu diria que, caso exista alguma, ela parece ser fracamente positiva. O que istor quer dizer? Não sei. Mas sei o que isto não quer dizer.
1. Mais liberdade econômica inibe a caridade: Não sei. Com uma base de dados cross-section, apenas, não posso dizer muito. Além disso, níveis de variáveis fraca ou fortemente relacionadas não significam que variações das variáveis se relacionem.
2. Menos liberdade econômica favorece a caridade: Olha, meu caro, se não há correlação clara, ou se ela é fracamente positiva, não me parece também que isto seja sinônimo de dizer que existe uma forte correlação negativa. Veja o gráfico. Isto sem falar das outras observações feitas.
3. Caridade não tem a ver com anos de estudo: Talvez sim, talvez não. Não dá para dizer com o gráfico acima. Aliás, nem sei porque anos de estudo teria alguma relação com a caridade. Qual é a sua teoria?
Assim, no mínimo, você precisa de duas coisas: (a) uma teoria a ser testada e (b) uma base de dados maior que considere a possibilidade de outras variáveis interferirem nesta correlação simplória.
Quero fazer uma pesquisa sobre o tema! Devo sair correndo atrás de um orientador?
Calma que o mundo não vai acabar amanhã (eu acho).
Primeiramente, não incomode seu provável orientador com uma correlação sobre a qual você ainda sequer pensou. Veja, é muito importante ter alguma hipótese a ser testada. Eu até imagino que existam teorias para nos dizer que a caridade pode ser desincentivada pelo aumento no tamanho do governo (aliás, estas teorias existem e, se não me engano, existem artigos científicos sobre o tema).
Outra coisa: o que compõe cada um destes índices? Este é outro trabalho pré-encontro-com-o-provável-orientador que você deveria fazer. Trata-se do que poderíamos chamar de eu sei sobre o que estou falando. Você conhece seus dados? Pensou sobre eles? Entendeu a metodologia? Nem precisa concordar com a metodologia de coleta dos dados, por exemplo, mas tem que entender como ela é feita ou o que ela nos diz (e, o mais importante, o que ela não nos diz).
Bem, eu não sei se fiz uma caridade com este texto, mas pelo menos espero que alguém tenha entendido um pouco melhor sobre o início de uma pesquisa. Talvez até tenha ajudado a melhorar um pouco seu capital humano. Viu só como estas coisas são complicadas? ^_^