Aquele filme, “A Onda”, é muito bacana, e nos faz pensar em uma certa crueldade humana uma certa incapacidade do indivíduo de agir por si só. Não seria totalmente responsável por suas crueldades, digamos assim. Alega-se, por exemplo, que haveria fundamentação para isso no famoso Stanford Prison Experiment .
Mas o buraco é mais embaixo. Embora famoso, este experimento tem vários problemas. Por exemplo, os de replicação (como vemos aqui). Aliás, a Psicologia não é a única área sujeita a este tipo de problema, mas isso fica para outro dia…
Há também o problema da fraude que, supondo que não tenha sido cometida propositalmente, pode ter a ver com o fato de que alguns psicólogos – da época – não terem compreendido que o suposto experimento é um jogo no qual cobaias e experimentadores têm ações praticamente endógenas.
Por exemplo, o psicólogo Zimbardo – a estrela deste experimento – não parece se convencer (ao menos publicamente) que algumas de suas cobaias não estivessem atuando:
Sem falar no desejo de publicar os resultados do suposto experimento na grande mídia – que nunca é a mais qualificada para escrutinizar resultados científicos, pois sua vantagem comparativa é divulgar notícias, falsas ou não.
Por que o sucesso? Porque queremos dispersar os custos de nossas ações e concentrar os benefícios, como dizemos em Economia.
Aceitar a teoria implícita de que podemos ser levados pela onda, claro, é reconfortante porque nos faz pensar que é algo intrínseco à nossa natureza e, portanto, não seríamos tão culpados assim. Por mais que esta narrativa seja atraente, como expõe didaticamente o autor do trecho acima, o fato é o experimento carece seriamente de fundamentação científica, para dizer o mínimo.
Para mim, incentivos importam e a ação do indivíduo é fundamental. Podemos até discutir certas variáveis que influenciam nas ações dos indivíduos (motivações intrínsecas) além das tradicionais que economistas debatem (motivações extrínsecas). No final do dia, o fato é que, até o momento, a responsabilidade por suas ações parece ser sua e não das vozes em sua cabeça ou dos documentos escritos por seus superiores ordenando que você fizesse barbaridades, né, Adolf Eichmann?
p.s. Agradeço ao Philipe pelas dicas dos textos. Há tempos eu procurava links sobre o tema…
Outra sugestão (de filme no caso) é o experimento de Milgram que trata… do experimento de Milgram.