Um Peugeot 206 ano 2013 é vendido por US$ 91 mil, enquanto um 508 novo chega a custar US$ 262 mil, num país onde não é raro ganhar menos de US$ 20 por mês.
Como isto é possível? Desigualdade social gerada pelos mercados? Pense bem antes de responder a esta pergunta porque o responsável pelo baixo valor dos salários dos cubanos é o governo de Cuba (e também o nosso, no que diz respeito aos contratos flagrantemente desumanos que fez com médicos cubanos, com o surpreendente silêncio dos sempre atentos membros do Ministério Público).
O engraçado é que a matéria não vai até a raiz do problema. Por exemplo, o redator continua:
Por enquanto, a administração pública não fez nada para que os preços cobrados sejam minimamente ajustados à realidade cubana, deixando o mercado de automóveis limitado a alguns poucos endinheirados.
Eu sei que a “administração pública” é a grande responsável pelo fracasso sócio-econômico da ilha. O jornalista que redigiu a matéria, imagino, também sabe. Agora, como é que ele espera que o governo cubano consiga “ajustar minimamente” os preços à “realidade cubana” é-me um mistério. Por que?
Primeiro, pelo óbvio fato de que é o próprio governo (ou, como ele quer, a “administração pública”) o grande responsável pela mudança. Segundo, é lá que provavelmente se encontram os “poucos endinheirados”. Aliás, faltou fazer a pergunta: como é que pode existir alguém “endinheirado” num regime socialista?
Bem, ao contrário do discurso, é exatamente isto que um regime socialista faz. Não, não me refiro às toneladas de livros escritos sobre a igualdade no socialismo. Uma coisa é a publicidade dos intelectuais, outra, a realidade (como é que você acha que eles ganham a vida?). Obviamente, não é novidade para ninguém que assim seja no socialismo. Qualquer um que tenha estudado um pouco da história do leste europeu já deve estar familiarizado com isto. Quem é esta, como diria um porta-voz do governo atual, “elite branca”?
Antigos filhos da classe trabalhadora são os mais afoitos membros da nova classe. Foi sempre o destino dos escravos que seus representantes mais inteligentes e bem-dotados se tornassem seus senhores. Neste caso, uma nova classe dominante e exploradora nasceu da classe explorada (Djilas, M. A Nova Classe, Círculo do Livro, p.45)
Pois é. O jornalista que se espanta com o preço do Peugeot poderia ir além e se perguntar de onde surgiram estes endinheirados. O ex-assessor do Marechal Tito, Milovan Djilas, autor do trecho citado acima, foi bem claro na pista para se descobrir a origem dos “endinheirados” cubanos.
