Introdução à revolucionária teoria por mim criada
Prezado leitor. Como sói ocorrer sempre que Karl Marx me visita após um café, este blog acaba de revolucionar toda a teoria sócio-econômica do planeta Terra. Calma, você é esperto, sabe ler, vai entender minha genialidade. Vou explicar de forma didática.
Vamos começar com um exemplo – exemplos sempre são bons e ajudam o entendimento de todos – tirado de uma obra muito importante, um livro que recentemente descobri, em minhas leituras marxistas. Primeiramente, vale observar que não entendi porque o tradutor de dita obra usou “KGB” como substantivo masculino. Assumindo que esteja certo…
“Tínhamos uma (piada) no KGB nessa época: qual é a diferença entre um dissidente e um agente do KGB? O dissidente inventa as piadas, o agente do KGB as espalha.
‘Essa piada era muito verdadeira porque, se um funcionário do KGB ouvisse alguém contando piadas, ele tinha de descrevê-la num relatório, e depois esse relatório seria reproduzido e entregue a seus superiores. Então os secretários desses superiores transcreviam os relatórios e enviavam aos superiores dos superiores, e, quando você ia ver, 50 pessoas já conheciam a piada e iam contar para suas esposas…Essa foi outra razão por que nós paramos de prender pessoas por contar piadas’. (Lewis, Ben. Foi-se o Martelo, 2014, p.200).
Não pude conter o riso ao ler este trecho. Parece um daqueles absurdos que Mel Brooks ironiza em seus filmes (não sei bem o porquê, mas algo me diz que este humor é a cara das piadas do grande humorista norte-americano). Ou lembra aquele famoso sketch do Monthy Python sobre a piada mais engraçada do mundo que, por matar de rir, tinha que ser cuidadosamente traduziada, na época da guerra, para o alemão por diferentes agentes britânicos ou…bem, veja o sketch.
O fato é que o humor perturba aqueles que não curtem biografias não-autorizadas e acham que tudo é “crime contra a honra”, “crime de difamação” ou, vamos dar nomes aos bois: “crime por pensar diferente”. Goste-se ou não, é como disse o pessoal no debate, ontem, lá no Liberzone: a liberdade de expressão, se destruída (de uma vez ou aos poucos, não importa), gera estes absurdos.
Imagine a falta do que fazer dos funcionários públicos soviéticos. Ao invés de jogarem as sementes para uma economia de mercado, passavam boa parte do tempo perseguindo inimigos imaginários ou contadores de piadas sendo que, no último caso, o feitiço virava-se contra o feiticeiro.
Enunciado da Lei de Piketty da Desigualdade Social do Humor
Eis aí o que eu, pomposamente, chamo de Lei férrea de Piketty da desigualdade social gerada pela privatização estatal das piadas. Funciona assim: alguém cria uma piada e a conta. Vem um sujeito da KGB e o censura. Faz o relatório. Segue-se todo o processo descrito acima. Ao final, só podem rir das piadas aqueles que possuem o monopólio da coerção (e da violência e do pensamento, etc). Pronto: concentrou bem-estar (risadas) nas mãos de poucos em nome do socialismo.
Defendo também que esta é uma lei férrea porque inexorável. A tendência é que o capitalismo gere, em si mesmo, pela dialética que acabo de reinverter de forma original e genial (além de modestamente), grupos de pessoas de esquerda que desejarão controlar o pensamento e, aos poucos, construirão uma sociedade socialista e sufocarão o alegre humor que existirá no início da revolução (quando, aí sim, poder-se-á debochar de políticos, empresários e estudantes libertários ou conservadores) em prol da construção de uma sociedade mais humana, igualitária, bonita e com coxas bem torneadas.
Não é óbvio que e ululante que a lei de Piketty vai operar com toda força, principalmente depois da crise de 2008? Só não vê quem ainda é alienado pelas condições materiais de produção do capitalismo neoliberal.
Agora sim, tudo se explica!
Convido o leitor a criar a versão algébrica da lei para disputarmos um Nobel da Economia com Piketty, os assessores de Kirchner e alguns famosos economistas do governo atual. Ah sim, alguém aí peça ao Financial Times para conferir os dados. Se bem que minha lei está acima de coisas frias como estatísticas. O que vale, quando o assunto é sociedade, é a emoção, o coração, esta malemolência típica do brasileiro, a alma tupi-guarani mesclada com a bravura dos bandeirantes!
Vida longa à Lei de Piketty da desigualdade social do humor!