Quando se levantou da poltrona no enorme salão e andou em direção ao pódio, Kol’tsov foi defender o valor da sátira, não porque acreditava na liberdade de imprensa, mas porque esse gênero literárioa era a fonte de seu poder político. (Ben Lewis, Foi-se o Martelo, p.66)
Muitas vezes é difícil visualizar o que acontece na realidade – e certamente a vulgata marxista não ajuda – pois ela é, sim, muito complexa. Eu diria que uma combinação de Hayek com Olson seria mais adequada para entender este pequeno – mas importante – trecho acerca da defesa da sátira na sociedade soviética.
A sátira pode muito bem ser pensada como algo perigoso. Assim se manifestou Vladimir Blium:
Zombar do Estado proletário pelo uso de velhos recursos satíricos e assim abalar suas fundações, rir dos primeiros passos – mesmo que incertos e desajeitados – da nova sociedade soviética é no mínimo imprudente e equivocado. (mesma referência anterior)
Reparou no aviso? Há um marco civil aí, gente! Não se pode fazer biografia não-autorizada paródia em um estado governado por trabalhadores proletários. Não é prudente. Pode levar seu autor a horas de interrogatórios em delegacias.
Em uma sociedade de partido único, discurso único, controle social da mídia, da escola, da família, do mercado, da saúde, do céu, do mar e da alma (1984…), meu caro, tal e qual na sociedade brasileira e afins, existem interesses e rent-seeking. A diferença é que, em sociedades chavistas, bolcheviques e afins, com o controle do pensamento em níveis absurdos, qualquer coisa vira motivo de luta por grupos de interesses. Assim, o malandro do Kol’tsov pôde lutar pelo seu direito de fazer sátira. É quase como estar em um livro de Kafka…

Um comentário em “Rent-Seeking no Humor”