Rebuliço e reboliços heterodoxos
Recentemente houve um certo rebuliço (isso mesmo) acerca de um artigo do Paul Krugman publicado, acho, ontem. Alguma coisa sobre choro heterodoxo. Ok, o povo adora discutir Paul Krugman porque, primeiro, dá ibope para o blog, segundo, porque pode ser que ele tenha algo a dizer que seja útil, ao invés de suas críticas ao Partido Republicano, sempre sujeitas a erros crassos.
Mas eu prefiro não citar o Krugman. Prefiro este professor de Oxford, Simon Wren-Lewis, que diz, sobre a economia mainstream:
● This is because mainstream economics can be remarkably flexible. One of the sad things about the way economics is often taught is that students do not see much of the interesting stuff that is going on in both micro and macro, and instead just learn what the discipline looked like 50 years ago.
Ele se refere a uma discussão específica, de um povo lá de Manchester, mas creio que levantou bons pontos em seu texto. Note que um dos grandes erros das pessoas é imaginarem que economistas são caricaturas que pensam de maneira binária (sim, a vasta maioria dos críticos de nossa Ciência tem esta visão deformada que, aliás, dizem criticar).
Quem nunca viu um texto de Douglass North citado aqui, levante o braço. Quem acha que a Nova Economia Institucional é sinônimo de Ortodoxia, vá estudar mais antes de falar besteira. Quem acha que este blog tem posts sobre Econometria aplicada porque é ortodoxo, por favor, vá ler um pouco e praticar Economia antes de cometer tamanho erro. Dói mais em você – que morrerá de vergonha ao lado de quem entende do assunto (mas não ao lado dos idiotas que acham que o mundo a ser criticado é o de “cabeças de planilha”) – do que em mim, que tenho que perder minutos do meu tempo valioso para explicar o óbvio: Ciência não é Religião. Aliás, pega lá o A Solidão da Cidadania do Alberto Oliva e leia sobre a diferença entre ciência e religião. Já ajuda um bocado.
À guisa de conclusão
Uma anedota curiosa. Um amigo pessoal meu e também colega de trabalho, o Ari, é um sujeito chegado na econometria. Nada de errado com isto, certo? Pois é. Mas eu, que lia um pouco de Economia Austríaca (ainda leio) porque, sei lá, vai ver eu queria pegar mulher, ou porque eu achava (ainda acho) que há algo válido lá para meu crescimento pessoal (no pun intended, ok?). Pois é. Um belo dia, um sujeito que se diz libertário, perguntou ao Ari como é que ele podia trabalhar comigo pois ele usava econometria e eu falava de Hayek.
Ou seja, o preconceito do sujeito é tal que ele já assume como verdade universal e inabalável que se Mises fez xixi no livro de econometria, todos devem fazê-lo. Mises não sofre de dispersão do conhecimento e, claro, o método científico só vale se for o de, adivinhe, Mises. E ele se diz libertário, pluralista e tal. Não me perguntem o nome do sujeito. Não vou dizer. Mas perceba como a visão do leigo – que não é da área – é sempre tão preconceituosa quanto a dos economistas que dizem criticar.

Como dizia um famoso professor lá da UFRGS, “heterodoxo” é tudo aquilo que ainda não se tornou “ortodoxo”…