O IPEA deu um importante passo na direção correta, embora já tenha causado uma imensa externalidade negativa: corrigiu sua pesquisa que, bombasticamente, insinuava que a sociedade brasileira era um inferno machista.
Na verdade, 26% dos entrevistados concordaram com essa afirmação e 70% discordaram total ou parcialmente (veja arte divulgada pelo Ipea abaixo). Segundo o instituto, houve inversão dos resultados na hora de divulgar os resultados.
“Com a inversão dos resultados, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias”, diz a nota do Ipea.
Então, 26% dos entrevistados, de uma amostra composta predominantemente por mulheres concordavam com uma afirmação que, em si, já é complicada. O número anterior era 65% o que dá, vamos lá, 39 pontos percentuais de diferença. Não é por acaso que o diretor responsável pediu sua própria exoneração: trata-se de uma diferença muito alta, dentro de qualquer padrão aceitável.
Obviamente, os comentários sobre a notícia são os mais diversos (de nível intelectual pior, igual ou melhor do que o que se espera de uma pessoa minimamente educada). Há os que acham que o IPEA errou porque não confirmou suas crenças pré-concebidas (preconceitos) de que, sim, a sociedade brasileira é machista, e há os que acham que o IPEA não tem credibilidade alguma por conta do evento.
Deixando de lado o culto à ignorância, o fato é que o IPEA sai desta história com um grande arranhão em sua excelente história. Não sou daqueles que vai recomendar o obscurantismo e o fim das consultas aos dados do instituto. Continuarei com a mesma recomendação que sempre fiz: leia a pesquisa antes de falar dela, seja você o divulgador da mesma, aquele que a fez (e, neste caso, tome cuidado com o que vai dizer que a pesquisa diz…) ou o leitor que pretende ficar famoso com polêmicas (ou tirando a roupa e se manifestando). Não há outro remédio.
Para o IPEA, fica sempre o desejo de que os técnicos façam sempre um bom trabalho e evitem o caminho fácil da fama por meio de resultados bombásticos, que dão ibope, mas que estão errados. Tenho bons amigos lá neste órgão e sei que eles gostariam de que tudo isto jamais tivesse acontecido. A vida deles não tem sido fácil nos últimos 12 anos, eu sei, mas não precisavam disto.