Ontem eu prometi que cumpriria uma promessa (prometi que cumpriria uma promessa…) ao meu amigo Jonathan, o homem que decepou o Gato de Botas (reparem como Borba Gato pode ter influenciado o inconsciente de nosso jovem professor cearense-belorizontino…). Ele me pediu entusiasticamente um texto sobre Sabará, sua terra não-natal, mas que está lá no coração dele.
Sim, meus caros leitores, Jonathan não apenas é casado (a esposa caiu no golpe dele, a gente sabe), como também tem coração (embora ninguém tenha confirmação disto, eu aposto que é verdade).
Sabará: uma cidade de contrastes! Que contrastes? Sei lá.
Mas e quanto a Sabará? Eis a cidade com o menor verbete na Wikipedia de língua inglesa que eu já vi. Não é apenas tem um verbete pequeno como também é um pouco difícil de localizar no mapa.

Bom, o que é que tem em Sabará? A Wikipedia lusitana fala de umas bobagens como casarões, escravos, etc. Nada disto importa. O imperialismo belorizontinense sufocou o verbete e tentou nos esconder o que há de mais importante na cidade vizinha que é a jabo(u)ticaba! Sim senhor, tem jabuticaba lá.
Nada mais importa na vida se você tem um latão de jaboticabas, certo? Veja o que diz a pretensa enciclopédia:
Festival de Jabuticaba: Sabará é a “Terra da Jabuticaba”. Típica no Brasil, com maior produção no estado de Minas Gerais, a jabuticaba encontrou espaço nos quintais das casas de Sabará. A municipalidade incentiva a preservação das jabuticabeiras, através de uma lei municipal que dá desconto no valor do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana para cada árvore plantada em imóvel. Em 2007, o Festival da Jabuticaba foi registrado como Patrimônio Imaterial do município. É uma festa que recebe um ótimo público e que é bem conhecida na região. Arraiá do Tapppa: Famosa festa Junina da cidade que também conta um ótimo público. Uma festa com comidas típicas e muita dança.
Sensacional! Finalmente o governo faz uma política social importante. Deveria ser exemplo de livro-texto: “olha gente, o governo erra até quando não quer mas, há uma exceção: o incentivo às jaboticabeiras que se faz lá no Brasil, aquela pocilga gigante na América Latina, especificamente em Sabará. Nada no Brasil dá certo, exceto, claro, a malandragem, a sacanagem e as jabuticabas. Bem, tenho algo do que me orgulhar neste país e devo isto ao Jonathan.
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Mas vamos em frente. Há um patrimônio cultural da humanidade em Sabará que, aposto, você não conhecia. Trata-se de Júlio Ribeiro. Primeiro, a paulistada adora o Júlio porque, não fosse por ele, o estado de São Paulo teria uma bandeira (mais) feia (ou não teria bandeira). Então, de nada, barões do café, paulistas. A gente ainda vai mandar a conta para vocês.
Mas o seu Júlio não era apenas um exímio sacaneador de paulistas não, leitores! O entusiasmadíssimo verbete da Wikipedia chama a atenção para algo muito mais importante:
Polêmico, abolicionista, anticlerical e representante do naturalismo, movimento fundado pelo francês Émile Zola.
A Carne, publicado em 1888, é seu romance mais conhecido, possivelmente a sua obra-prima. Conta a ardente paixão entre a jovem Lenita e o engenheiro de meia-idade Manuel, filho do coronel Barbosa. O livro provocou escândalo por abordar temas até então ignorados pela literatura da época, como amor livre, divórcio e um novo papel da mulher na sociedade. Definitivamente, é um livro sobre a sexualidade humana.
Por sua importância em sua época, foi eleito pela Academia Brasileira de Letras, com o Patronato da Cadeira 24, por escolha de seu primeiro ocupante, Garcia Redondo.
Viu só? O pobre do Zola não fazia nem idéia – deve estar do outro lado, agora, batendo a cabeça, lamentando-se por não ter lido nada deste gigante das letras sabarenses – mas o Juju era um rapaz com pensamentos ímpios! Fosse eu o autor, o livro chamar-se-ia: “O Sexo Ardente Nos Galhos da Jaboticabeira” ou algo mais sutil (?) como: “Manuel ensina Lenita a chupar jaboticaba”. Ah, duvido que algum sabarense já tenha lido o livro!
Ainda não satisfeito? Tem mais, amiguinho!
Bom, agora que você já viu o que realmente importa em Sabará, consideremos alguns outros tópicos: o gentio local atende pelo nome de sabarense. Por exemplo, você encontra o Jonathan na praça da Igreja Matriz e diz: “- E aí, véi sabarense, vai ter rolé de jabuticaba hoje”? Ele provavelmente fará um gesto mal educado, mas não ligue, Jonathan tem coração, como eu disse.
Aqueles que viram o famoso filme com Anita Ekberg certamente não podem deixar de visitar e conhece o histórico Chafariz do Caquende. Como sou amigo do Jonathan, o homem de lata que ganhou coração, consegui uma foto dele com uma antiga namorada no dito cujo supra-citado chafariz. Apreciem o momento de romantismo (pode usar o método dos momentos generalizados para apreciar).

Gente, gente, nem com todos os autovalores do mundo alguém poderia perder esta chance, não? Pois é. Sabará fica ali do lado. Depois dos hotéis, você entra ali, vira, segue toda a vida, quando estiver morrendo, passa pelos radares, pronto, chegou em Sabará.
É, eu já fui para lá à pé. Duas vezes. Mas eu era jovem. Tinha esperança no mundo, fé na humanidade e nenhum tostão no bolso. A gente saía ali da Cidade Nova e ia com mochilas e – ahá, lembrei: com pão com linguiça! – andando em direção à histórica e perdida capital de Atlantis, a homenageada de hoje: Sabará.
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