Rafael e Laurini. Rafael em itálico:
Um professor que eu tive defendeu o uso de matemática ao invés de linguagem verbal porque a linguagem matemática torna a formulação teórica imune a erros de lógica interna e também porque facilita o entendimento do ponto de vista dos outros economistas.
Eu digo que embora essas vantagens realmente existam, existem as seguintes desvantagens: 1- A linguagem matemática é mais pesada que a linguagem verbal, é mais difícil escrever uma idéia usando linguagem matemática do que linguagem verbal, e é mais difícil ler um artigo que fala sobre a mesma idéia usando linguagem matemática do que verbal. A matemática é uma forma ineficiente de transmitir conhecimento.
2- O uso de matemática tende a tornar populares as teorias matematicamente mais simples e não as teorias mais realisticas. Distorcendo a teoria econômica, um exemplo é toda a teoria macroeconômica, como modelos IS-LM e cia, que são lixo pseudo científico, mas é fácil de usar.Discordo integralmente, embora entenda sua colocação. Matemática exige um treinamento, mas permite um arcabouço comum para expressar as idéias e suas limitações. Com a formação adequada, é muito mais fácil ler um artigo matemático e principalmente entender exatamente o que foi assumido na análise e qual a limitação. Matemática é uma forma muito mais eficiente de transmitir uma informação. Que tal estudar um pouco de teoria de codificação para entender esse ponto?
Mas se você tem dificuldades em entender a linguagem matemática, como pode criticar de forma tão incisiva? Acredito que só podemos criticar um problema que dominamos completamente.
Agora, permita-me negritar o trecho do Rafael em pontos que acho importantes:
Um professor que eu tive defendeu o uso de matemática ao invés de linguagem verbal porque a linguagem matemática torna a formulação teórica imune a erros de lógica interna e também porque facilita o entendimento do ponto de vista dos outros economistas.
Eu digo que embora essas vantagens realmente existam, existem as seguintes desvantagens: 1- A linguagem matemática é mais pesada que a linguagem verbal, é mais difícil escrever uma idéia usando linguagem matemática do que linguagem verbal, e é mais difícil ler um artigo que fala sobre a mesma idéia usando linguagem matemática do que verbal. A matemática é uma forma ineficiente de transmitir conhecimento.
2- O uso de matemática tende a tornar populares as teorias matematicamente mais simples e não as teorias mais realisticas. Distorcendo a teoria econômica, um exemplo é toda a teoria macroeconômica, como modelos IS-LM e cia, que são lixo pseudo científico, mas é fácil de usar.
Se você concorda que matemática facilita sua vida no entendimento de um ponto (vantagem), difícil é entender como pode, ao mesmo tempo, achar que matemática dificulta sua vida (desvantagem), exatamente quando se a usa para entender o determinado ponto. Veja como a linguagem verbal, neste caso, é confusa. O tópico 1 da resposta do Rafael mostra que, em alguns casos, a matemática é melhor do que a linguagem verbal.
Agora, ao segundo parágrafo: se a matemática tende a tornar populares teorias matematicamente mais simples (quem seria capaz de dizer quais são as mais complexas, já que matemática é ineficiente na transmissão do conhecimento?), ela também não o faz sempre, a não ser que a tendência seja absoluta tal como uma dialética hegeliano-marxista aplicada a história. Não creio que o Rafael pense que este é o caso.
Mas aí temos um ponto mais complicado, quando o modelo IS-LM é chamado, sem rodeios ou explicações maiores, de “lixo pseudo-científico”. Eu até acho que sei o que Rafael está dizendo. Ele deve estar se referindo à visão pré-McCallum (ou mesmo pré-Walsh, pré-Romer, se pensarmos em IS-MP-IA) do modelo IS-LM. Provavelmente a crítica é de que o modelo se concentra em agregados e não tem fundamentos microeconômicos. Isto é verdade e, o problema é pensar que, mesmo assim, todo mundo usa este modelo verdadeiramente idiota para explicar economia. Parece que funciona, eu diria.
Como assim? Vejo da seguinte forma: embora não haja lá microfundamentos – antes de McCallum, Walsh, Romer – isto não quer dizer que não existam ou que não sejam relevantes. A leitura de qualquer texto dos autores que cito aqui (novamente: McCallum e Walsh) mostra que o IS-LM da graduação, para gente que nem sempre tem interesse em prosseguir os estudos em um bom mestrado (ou em um pseudo-mestrado), é um pouquinho mais elaborado atualmente.
Mas, ainda assim, eu seria menos malvado com o modelo. Lixo pseudo-científico é mais ou menos como pseudo-ciência e, assim, Roger Garrison, por exemplo,teria desperdiçado seu tempo em um descomunal esforço não-interessante de unir a visão austríaca aos fundamentos do IS-LM. Aliás, falta uma leitura crítica do livro de Garrison (ok, um dia eu faço isto, quando me pagarem mais…ou quando orientar algum aluno interessado no tema), mas vejam como ele fez o dever de casa crítico do IS-LM sem qualificá-lo como lixo. Na p.127-8 de seu “Time and Money” temos:
We can translate the components of the 1937 Hicksian framework into the 1976 Hicksian framework by recognizing that the “in time” sector consists of one real and one monetary component (the demand for investment funds and the speculative demand for money) while the “out of time” sector consists of the remaining real and monetary components (the saving behavior of income earners and the transations demand for money.) The derived demand for labor, which makes no explicit appearence in ISLM (but does in our proposed reconstruction) is also included in the “out-of-time” sector.
Mesmo Garrison reconhece a importância de um modelo limitado como o IS-LM. Então, o melhor, na minha opinião, é não apenas moderar o tom, mas interiorizar a lição de Garrison (meu lado nipônico sempre fala mais alto nestas horas…). Não se avança em teoria econômica numa metáfora nietszchieana (ou algo assim) de marteladas. Marteladas são boas para políticos, não para projetos de pesquisa.
Eu sei que há muita sacanagem no meio acadêmico porque tem gente que corta bolsas de pesquisa porque fulano não é marxista (ou “campineiro”, etc, etc), mas é justamente contra esta mediocridade que desejamos lutar, não é?
p.s. eu sei que alguns austríacos não gostam da idéia do teste do mercado das idéias (embora a cataláxia…), mas é o próprio Garrison que diz: o livro ganhou um prêmio. ^_^