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Dia: maio 27, 2008
Copom – Quinta-feira
Já falei aqui, mas vou repetir (Juliano e Philipe já confirmaram presença): nosso grupinho do Copom estará em ação nesta quinta-feira. Desta vez, com vários aperfeiçoamentos técnicos…
Local: IBMEC-MG (Rua Paraíba, 330, 5o andar).
Horário: A partir das 15:00 h.
Aberto ao público externo.
Sinta-se convidado.
O mau argumento
Ainda dia desses, em uma reportagem de TV, vi uma moça pró-aborto, de alguma dessas ONGs “feministas pra cacete” dizendo que nos últimos anos, alguns milhões de mulheres cometeram abortos, logo, não poderia ser crime visto que seria uma sandice termos 2 milhões de mulheres presas. Achei sensacional o argumento, com uma lógica espetacular: Se muita gente comete um crime, o mesmo deve deixar de ser crime. Uma pena que nossos legisladores não sigam a lógica da mulher que vi na TV pois, com o andar da carruagem, em breve o Brasil seria o primeiro país do mundo sem nenhum criminoso.
Ângelo tá certíssimo no que diz respeito à lógica. Se o argumento da dona parou por aí, realmente é difícil falar de mudanças institucionais sérias. O aborto envolve uma das mais difíceis discussões sobre direitos de propriedade. O mais legal é que estas “feministas” (ou, como gosta a imprensa, “supostas feministas”) sempre são não-liberais e ferrenhas defensoras do direito privado de abortar. Em outras palavras: são exatamente iguais aos inimigos que tanto criticam…
Feministas não precisam ser mal-assessoradas com estes argumentos ruins. Basta um pouco de leitura liberal para iluminar suas tristes vidas tão cheias de argumentos sofríveis…
Mercado
O mercado funciona. Dica da Tia Cris. Impressionante como atender os diferentes perfis dos consumidores continua a ser feito de forma extremamente mais competente pelo mercado do que pelo burocrata (benevolente ou não…aliás, enquanto isto, o BNDES é investigado por sua participação no PAC (Programa de Aceleração da Corrupção…).
A cultura é sinônimo de determinismo histórico?
Esqueça o famoso “jeitinho brasileiro”. A longa permanência no Japão faz com que alguns brasileiros mudem de comportamento, assimilem hábitos e características tipicamente nipônicas e absorvam, ou sejam absorvidos, pela cultura japonesa. Os casos não são raros e exemplificam um curioso fenômeno que, aqui, chamaremos de “aculturação”.
“Aculturação” uma ova, amigo. Trata-se simplesmente de um processo maravilhosamente complexo e importante de como incentivos alteram a cultura das pessoas. É o âmago da discussão sobre o papel das instituições no desenvolvimento econômico.
Inclusive, devo dizer, talvez seja o contrário. Poderíamos dizer que o sujeito viveu no Brasil sob uma repressão de seus verdadeiros valores individuais. É muito simples achar que o sujeito se “acultura” porque é obrigado a isto. Nem sempre. Veja o trecho abaixo:
Há 14 anos no Japão, Amano foi ao Brasil pela última vez em 1997, ou seja, há 11 anos, e ficou só duas semanas lá. “Só sinto falta dos meus familiares e de alguns lugares, mas estou totalmente integrado e adaptado ao estilo de vida japonês”, garante ele, que também menciona valores culturais nipônicos com os quais se identifica. “Muito me agradam a disciplina, a pontualidade e o respeito mútuo, entre outros valores da sociedade japonesa.”
Se lhe agradavam os valores, o coitado foi “oprimido” (como gostam de dizer os supostos “engajados” brasileiros) pela nossa sociedade. Não sei dizer, realmente, como ocorre a mudança dinâmica da cultura em nível individual, mas fica óbvio, para mim, que incentivos importam. Mais ainda, fica óbvio que “incentivos” é a grande contribuição da Ciência Econômica para os colegas das Humanas, quer eles gostem (ou entendam) o termo corretamente ou não.
p.s. Veja também o problema das dotações e instituições iniciais aqui, em um problema, digamos, invertido…
Frases que eu gostaria de ter dito
Richard McKenzie e Dwight Lee são dois professores de Economia relativamente desconhecidos no Brasil para os que não acompanham a literatura de Escolha Pública (Public Choice). Recentemente comprei seu livro Microeconomics for MBAs e tive o prazer de ler alguns trechos para – como sempre – buscar melhorar meus cursos para os próximos semestres.
Sabemos que os cursos de MBA’s brasileiros possuem a fama de terem turmas de alunos com um problema sério: heterogeneidade. Na verdade, a riqueza de uma turma como esta é justamente a sua fraqueza quando a direção cede aos pedidos populistas de alguns (“menos matemática, menos matemática…”). Veja bem, leitor, não estamos falando de matemática que o sujeito tem que aprender em Finanças, mas algo bem mais simples que envolve tão somente gráficos e uma álgebra equivalente à do pré-vestibular. Microeconomia é expressa em linguagem matemática, goste-se ou não disto. Obviamente, no caso de Finanças, a matemática tem que ser um pouco mais complexa, não tem jeito.
Mas observe só esta genial demonstração de conhecimento da maravilhosa divisão do trabalho que os autores descrevem no prefácio, quando discutem o perfil dos alunos do MBA:
(…) We figure that our fortes are thinking, studying, and teaching – not doing – business and then writing about what we have been thinking, studying, and teaching.
If our courses were primarily, if not exclusively, supposed to be about doing business, should we not change places with our students? They should come up to the lectern, and we should take their seats and listen to what they have to say. After all, they are actually doing business and know more about doing it than we could ever hope to know.
(…)
In a literal sense, the class is a world apart from the world of business, and intentionally designed that way for one strategic purpose: to take a look at how business is done from a broad perspective without the clutter of details that our students deal with day in and day out”. [p.xxi]
Perceba o significado do conhecimento. Um sujeito não precisa ir à escola para aprender a cortar madeira. Mas se vai, não é porque deseja ensinar, e sim aprender. Agora, existe uma diferença muito óbvia entre teoria e prática que é normalmente caracterizada por uma capacidade necessária em qualquer aluno: abstração (ou generalização, para os mais chegados em Lógica e Matemática).
Sobre isto não há o que discutir. Sabemos de gente que entra em salas de aulas em cursos como este desejando não fazer o menor esforço para abstrair porque “no mundo real, onde eu trabalho, não é assim”. Ora, isto é obviamente verdadeiro e, se você pensa assim, não precisa realmente ser um aluno em um curso que se pretenda “de nível superior”, mesmo que seja um simples MBA e não um mestrado ou doutorado acadêmicos.
Vale a pena refletir sobre o parágrafo acima. É sobre isto que se discute – dentre outras coisas – quando se fala da importância da qualidade da educação brasileira, uma discussão inelutável neste século. A administração Cardoso teve o mérito de criar incentivos para encher as salas de aula. A administração da Silva herdou e – espertamente – manteve a política. Entretanto, se isto é melhor que nada, ainda é longe do ótimo e não me venha com o “ótimo é inimigo do bom” porque, uma vez alcançado “o bom”, parte-se para o “ótimo”.
A hora da discussão sobre a qualidade do ensino chegou. Estudantes de economia que conhecem o conceito de sinalização e gostam de discutir sobre o papel do capital humano no desenvolvimento não devem temer o debate.
Eufemismos estranhos
Eufemismos globais
Vi hoje no Bom dia Brasil, a apresentadora dizer que a lei do filho único, na China, estimula as famílias a terem único filho. Isso mesmo: estimula. Vejamos:
China’s one child policy was established by Chinese leader Deng Xiaoping in 1979 to limit communist China’s population growth. Although designated a “temporary measure,” it continues a quarter-century after its establishment. The policy limits couples to one child. Fines, pressures to abort a pregnancy, and even forced sterilization accompanied second or subsequent pregnancies.
De agora em diante podemos dizer que o ladrão estimula a vítima a se desfazer dos seus bens. Ou que o assassino estimula a sua vítima a deixar de viver.
Resmungado às 09:21:00
Alô, universitário: não pense que língua portuguesa é igual a adorno de madame. Não é. É coisa séria cujo esquecimento faz com que você seja incapaz de se comunicar com os semelhantes. Como você não fala a língua dos golfinhos ou dos cães, isto limita bastante sua sociabilidade (ou mesmo a restringe aos sub-alfabetizados…).
E tem “professor” universitário que chama Delfim de neoliberal…
O próprio mostra, neste artigo, que está longe de ser um liberal. Posso discordar de Delfim em diversos pontos, mas nunca cometi o impropério de chamá-lo do que não é só para arrancar aplausos de alunos amestrados.
Tax Freedom Day
Giacomo fala sobre o conceito que nos inspirou a calcular os dias de servidão:
Os leitores mais antigos deste blogueiro se lembram do que eu e o Ari fizemos há alguns anos neste artigo (versão pré-revisão do que publicamos na Revista de Economia da UCB) e que, com mais algumas modificações, publicamos como capítulo deste livro.
O que é um blog?
Babalu Blog nos diz mais sobre isto.