Falei hoje sobre esta interessante proposição do pessoal da FIESP. Pois é. Não deu um dia e o ministro da Fazenda me saiu com duas ótimas:
Note bem, leitor, não existe um único manual de economia que defina o que seja consumo sustentável. Trata-se de um neologismo, fruto da criação política (ou do discurso político). Consumo é fruto dos desejos insaciáveis dos consumidores com suas restrições orçamentárias. Mesmo estas, até onde eu saiba, não são apenas fruto do que o consumidor ganha trabalhando (existe sempre uma Bolsa-Família ou um mercado de capitais, certo?).
Em outras palavras, se o ministro queria dizer algo, dissesse simplesmente: “- Consumidores, continuem consumindo que do controle da inflação cuida o Banco Central. Eu, aqui, vou cuidar das demandas dos políticos com o necessário cuidado”.
Por que o ministro não fala de uma carga tributária sustentável? Por que não lhe passa pela cabeça alertar os empresários para os investimentos insustentáveis? Tal como os governos que criticara, o ministro joga a batata para o consumidor, este irracional que consome de forma insustentável. Parece que faz isto com uma tremenda sensação de desconforto, como se vê na combinação de notícias acima.
Entretanto, meu desconforto maior é com esta súbita – e não sustentada? – afirmação de que existem consumos insustentáveis ameaçando a economia. Volto ao tema austríaco. Nos ciclos austríacos, as decisões de investimentos incorretas – que os austríacos chamam, muito adequadamente de malinvestiment – é que geram problemas na economia. Lembro que, para os austríacos, estes erros dos empresários derivam de sua (inexplicável) incapacidade de incorporarem informações oriundas de políticas públicas em seus cálculos econômicos, o que geram os tais malinvestiments.
Esta de jogar a culpa para os consumidores amplia as irracionalidades. E aí vem o meu Teorema do Keynesiano de Quermesse (em homenagem ao Alexandre):
“Se investidores e consumidores praticam gastos insustentáveis, nada há que garanta que, quando nomeados para cargos públicos, passem a gastar de forma sustentável”.
Fica aí a sugestão de reflexão para você, leitor deste blog. Por que é que um sujeito com um cartão corporativo na mão não gosta de ser chamado – no “modo” polido – de consumidor insustentável e, ao mesmo tempo, adora dizer que “pobre não sabe gastar”?
Engraçado, né? Bem, como este blog segue a CC, espero que o leitor não se esqueça de nos citar quando fizer a piada ou a citação do mais novo teorema econômico da selva brasileira…
p.s. Quando passei pelas notícias, agora à noite, vi que o povo ficou ouriçado. Outro economista da FIESP negou a necessidade de se conter o crédito ao consumidor, bem como (claro), a Fecomércio. Claro, nem era preciso ler este blog para ver a conclusão natural de que subsídios para industriais não são de graça e que alguém teria que pagar por isto…