Philipe, que hoje comemora seu aniversário em um local bem familiar, está remoendo as memórias sobre sua (arquetípica) tia. Algo neste post dá a impressão de que ele quer ganhar chocolate de aniversário. Duvida? Então me acompanhe na leitura da parte central do texto:
A sua tia Dória também é campeã nisso. Aliás, uso ‘tia Dória’ em sentido lato, como um arquétipo. Você já vai entender.
Um dia, tia Dória (que, repitamos, é um arquétipo) resolve fazer um bolo de chocolate. Para simplificar, vamos dizer que ela vai usar o equivalente a cinco reais de chocolate e cinco reais de biscoitos para fazer o bolo. Somando-se tudo, temos que o bolo custará dez reais.
Nesse momento, o Philipe começa a pensar: “Bom, eu ficaria muito feliz só de comer, junto com os outros primos, o chocolate e os biscoitos usados para fazer o tal bolo”.
Aí tia Dória começa a fazer a massa, colocar na forma, etc. O resultado? Um bolo que vale, digamos, oito reais. Menos do que o valor do chocolate e dos biscoitos utilizados.
Nesse momento Philipe começa a se mortificar e a pensar: “Pois é, todo mundo teria ficado mais feliz se, em vez de cozinhar, ela simplesmente desse o chocolate e os biscoitos para a gente. O bolo nem é tão bom assim.”
O fato é que, no exemplo, temos a transformação de dez reais de insumos em um produto que vale apenas oito reais.
O exemplo é grosseiro, mas já passei muitas vezes por coisa semelhante. E, como criança, era complicado ficar aguado com chocolate para comer um bolo mais ou menos depois.
Interessante, geralmente essas receitas “sumidouro de valor” incluem chocolate. Aparentemente, chocolate é uma coisa muito boa de se comer puro, mas que perde o valor quando misturada a outras coisas.
Talvez a explicação de porque tal prática ocorre passa pelo fato de que tia Dória fica muito feliz em cozinhar para os sobrinhos. Se ela deriva do ato satisfação que vale, digamos, quatro reais, o bem estar social aumenta.
O Philipe, claro, não entende só de bolo, mas também de sushi. De qualquer forma, eis um bom exemplo de aplicação microeconômica à sua (aguada) infância.
A tia, na opinião do Philipe, diminui o valor do chocolate quando faz o bolo. A tia, em sua própria opinião, faz o oposto. Então, por que é que o Philipe come o bolo? Não é porque se sinta satisfeito. É porque algum chocolate é melhor que nenhum ou, em bom economês: “melhor ficar em equilíbrio sobre esta curva de indiferença do que ficar em um equilíbrio com nível de utilidade menor”.
Talvez o Philipe seja um cara que, no aniversário, não queira uma stripper saindo de dentro de um bolo, mas sim de uma barra gigante de Chokito. Eu, claro, prefiro a primeira opção.