O Fato
Suponha que você ache que microcrédito é uma forma de estimular o empreendedorismo no país. Agora, e se você descobre que a maior parte das pessoas deseja estabilidade, não correr riscos. No que se transformará o microcrédito? Em uma enganação. Estar-se-á gerando uma nação de rent-seekers, não de profit-seekers.
Os universitários do Estado do Rio têm medo de arriscar no mundo empresarial. Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), realizada com 1.795 jovens no último ano de graduação, apontou que 63,5% procuram a estabilidade do concurso público, enquanto apenas 6,5% declararam ter coragem para montar seu próprio negócio.
Eis o fato e há muito o que dizer sobre o tema. Mas prefiro fazer uma rápida reflexão, bem pessoal, sobre o assunto. Segue abaixo.
A pergunta e uma resposta rápida
Por que muitos cursos de Economia não dão conta disto? Primeiro porque muitos acadêmicos se dedicam a uma – inacreditável, mas é verdade – pregação ideológica pelo marxismo/socialismo/ambientalismo/bolivarianismo. Assim, não sobra tempo para ensinar. Quando sobra, os seus aliados passam 104% do tempo a papagaiar que “a economia neoclássica é limitada e não dá conta da realidade” ou que “microeconomia é uma droga, o bom é ler Marx”.
Pode-se pensar nos cursos de Administração, mas aí também existe a laranja podre. Há algum tempo vi um acadêmico da área reclamar do “excesso de matemática” em Finanças. Como se Finanças fosse um misto de decorar leis e regras de bolso. Pode ser que tenha sido assim na época dele, em que o país era uma selva mesozóica, mas tão mesozóica, que o governo teve que criar o antigo IBMEC para desenvolver o mercado de capitais (estes empresários nunca foram muito empreendedores mesmo…deixaram o governo fazer isto para eles…).
Moral da história: quantos ensinam os alunos de negócios a sobreviverem no mundo dos negócios?
Ok, há uma mudança, ainda tímida. Pterodátilos que sempre condenaram as “finanças de Chicago” (ou “finanças neoclássicas”) agora se voltam, quase de joelhos, aos alunos, oferecendo cursos de finanças sem nunca terem aberto um livro-texto avançado sobre o tema. Por sorte, há novos recém-doutores preenchendo os espaços deixados por anos de infertilidade intencionalmente gerada por estes outros “doutores”.
Afinal, hoje, com a globalização à vista, dinossauros não sobrevivem. Ou se adaptam, ou morrem. Claro, fósseis natimortos (ou semi-vivos, sei lá) podem eventualmente ser encontrados e podem, também, ter sua existência prolongada por seus amiguinhos citados acima e os burocratas que buscam regulamentar (thanks, Mussolini!) as profissões criando a república dos sindicatos.
Conclusão
Não há muito o que concluir. Acho que disse o que pensava aí em cima. Bem sei onde estão as restrições institucionais para que um microcrédito funcione. Agora, não tem jeito. Só sujeito que gosta de arriscar, arrisca. Se isto significa que somente pessoas com maiores níveis de riqueza fazem isto (porque possuem menor aversão ao risco), não há solução: jamais veremos empresário pobre. Então, há que se remover as barreiras institucionais, mas há que se pensar também no porquê da mentalidade do brasileiro ser tão anti-empreendedora. Afinal, os mesmos ricos estão entre os que buscam a segurança confortável do setor público ao invés de inovarem (e provavelmente têm maior chance de serem aprovados em concursos públicos).
Se a Firjan confia na própria pesquisa e realmente está muito preocupada com os resultados, tem duas saídas: a) fecha o boteco, b) faz algo a respeito (e aí tem que repensar o próprio papel do sindicato numa economia de mercado).
Claudio
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