Em artigo de hoje para a Folha de S. Paulo, intitulado “O que o mestre mandar”, Ruy Castro expõe seu desconhecimento a respeito das nuances implicadas na emissão e recepção de mensagens.
Na tentativa de explicar o massacre ocorrido na Virginia, Castro produz uma argumentação adolescente sobre a influência da cultura americana no cotidiano de Banânia. “Durante quase um século, eles nos ensinaram que fumar era bacana, adulto e moderno”, inicia. Em seguida, explica: “Mas, então, eles descobriram que fumar não fazia bem, e a ordem foi banir o cigarro”. No segundo parágrafo, ele conta como “eles” nos ensinaram a consumir fast food. No terceiro, explica que “eles” descobriram que aquela era uma comida perigosa e passaram a nos ensinar a evitá-la. Não demora a desferir aquele que deve ter lhe parecido, no momento da redação, o golpe dramático a encerrar sua cantilena:
“Por fim, e por igual período, eles nos ensinaram a admirar os pistoleiros Jesse James, Billy the Kid e Wyatt Earp. Ficamos íntimos da Magnum 44, do Colt 45, da Winchester 73 e de outras ferramentas da civilização americana. Tanto que nos dedicamos furiosamente a usá-las uns contra os outros, entre nós mesmos.(…) Às vezes, como anteontem, eles descobrem que ferramentas análogas, nas mãos de um animal doente e agressivo, como o ser humano, costumam ser mortíferas. Alguns até já cogitam proibi-las. Pode ser que, lá, nos EUA, eles consigam.”
É uma ode ao oprimido: somos todos, enfim, tábula rasa, esperando apenas que os americanos nos digam como tocar nossas vidas. É o mito rousseauniano do bom selvagem: éramos um povo puro e fomos corrompidos pelos americanos. Somos, pois, um povo indefeso, imberbe, incapaz de reagir contrariamente às mensagens emitidas pelo “mestre”.
Querem saber? Vou concordar com Ruy Castro. Vou, sim. E vou comprar sua teoria por inteiro: o brasileiro é desprovido de senso crítico, incapaz de apropriar-se das mensagens que recebe para determinar o que delas lhe serve ou não. Está, o oprimido brasileirinho, à mercê de tudo o que vê, lê e ouve, não tendo, igualmente, capacidade de gerar idéias e comportamentos próprios.
De posse dessa teoria – que, notem bem, aceitei sem ressalvas, como requer meu limitado intelecto tupiniquim – vou perguntar ao brasileiro Ruy Castro quem é o seu “mestre”. Quero saber aos mandos de quem ele atende quando escreve um texto assim, ou seja : qual foi o lixo que Ruy Castro engoliu, sem qualquer análise crítica, para escrever tal porcaria?
Não dá para deixar passar esta excelente crítica.