I. Informação Assimétrica
Lembra do modelo do Spence? Aquele em que a educação é uma sinalização apenas, em nada aumentando a produtividade?
Normalmente eu vejo exemplos disto para se explicar como firmas podem desperdiçar dinheiro simplesmente colocando-o nas mãos do empregado (ou, de forma irônica, “colaborador”) e dizendo-lhe: “- Vá, meu filho, compre uma boa educação”.
Como existem escolas e “escolas”, o sujeito “compra” o diploma (ou insiste um bocado nisto) e volta para a firma…com a mesma produtividade de antes.
A observação mais importante, talvez, que este modelo nos traz, diz respeito aos verdadeiros ganhos com a educação. Para Marx, no “O Capital”, a profissão de professor fazia parte do tal “trabalho improdutivo”. Uma noção estranha (e até irônica), já que por mais que exista informação assimétrica (e Marx nem pensava nisto), é possível que o retorno da educação seja, parcialmente, convertido em maior produção.
II. Volta aos livros-texto
No livro-texto de Varian (graduação, o famoso “Baby Varian” em contraponto ao de pós, o “Hard Varian”), há uma interessante descrição de um estudo empírico de Andrew Weiss, sobre os impactos da educação em uma firma. Essencialmente, Weiss descobriu que a educação tinha pouco impacto na produção da firma estudada: trabalhadores com mais anos de estudo não tinham uma produtividade tão distinta da dos seus colegas.
Por outro lado, Weiss também encontrou que os caras com mais educação faltavam menos ao serviço. Em outras palavras: a produtividade dos caras era maior porque trabalhavam mais horas. Educação? Não necessariamente.
III. So what?
Observe o mundo à sua volta. Suponha que você conheça várias pessoas em várias faculdades e, mais ainda, a partir da metade do curso, você observa que os seus colegas iniciam um movimento de transferência entre faculdades, tanto de uma faculdade melhor para uma pior quanto o oposto.
Você se pergunta: por que existe tanta tentativa de transferência de alunos entre faculdades?
É possível que estejam todos tentando emitir um sinal para o mercado de trabalho. Algumas hipóteses.
H.1. O aluno menos capaz que, por imperfeições no mecanismo de entrada, foi parar na faculdade melhor, pode ter descoberto que não conseguirá ter sucesso no prazo desejado. Para ele, uma transferência é uma boa idéia porque ele sabe que a educação é mais um sinal do que tudo.
Pessoalmente acho esta hipótese menos provável de ser observada.
H.2. O aluno menos capaz que, por imperfeições no mecanismo de entrada, foi parar na faculdade pior, pode tentar obter o diploma da faculdade melhor e, portanto, tentará a transferência a qualquer custo. Comparativamente, ele deseja ter o mesmo “status” (sinal) do aluno que se esforçou mais, só que com um gasto com esforço menor.
Este caso me parece bem comum.
H.3. O aluno mais capaz que, por imperfeições no mecanismo de entrada, foi parar na faculdade pior, pode tentar obter o diploma da faculdade melhor e, portanto, tentará a transferência a qualquer custo. Além do aspecto da sinalização, suas chances de se dar bem no curso mais difícil (da faculdade melhor) são maiores do que as de um aluno ruim.
Também acho que isto pode acontecer, mas creio que o que mais ocorre, estatisticamnte falando, é H.2.
IV. Mas educação não me traz nada?
Olha, primeiro, há uma motivação moral e útil básica: estudar é bom e te faz entender melhor o mundo (inclusive entender as conseqüências da sinalização para sua vida).
Mas há também algo que não se pode esquecer. Pessoas são racionais e não apenas alunos são racionais. Professores o são e donos de faculdades idem (sejam eles o grupo sindical que domina a faculdade pública ou os acionistas/gerentes/dono da faculdade privada).
Eles, mais do que os alunos (já que estudaram sinalização antes dos mesmos), conhecem as funestas conseqüências que uma visão negativa da faculdade pode ter sobre seus ganhos. Daí a noção de se construir uma marca e tentar vendê-la como algo que represente um real ganho com a educação que lá se apre(e)nde. Claro, nem todos farão isto pois o cálculo do lucro considera a competição efetiva e potencial no mercado de educação: às vezes, só um sinalzinho já basta…
Então, sim, se você quer aprender algo que, eventualmente, possa aumentar sua produtividade (ou pelo menos aumentar seu salário um pouco sem necessariamente aumentar sua produtividade), existirão sempre algumas faculdades melhores e outras piores. Não pense que o governo resolverá isto. Isto não é possível e só gera maiores gastos para os contribuintes/consumidores (inclusive diminuindo a renda disponível em seu bolso para pagar por uma boa escola que, geralmente, é mais cara).
O que o governo pode fazer é compreender o mecanismo de mercado e tentar criar incentivos que, com o mínimo de interferência na decisão individual e racional das pessoas, mostrem-lhe que se educar é bom e que ter uma boa educação é melhor. Claro, uma boa educação, socialmente falando, é aquela em que o gasto com educação gera ganhos de produtividade. Caso contrário, podemos nos converter em uma república socialista e uniformizar todos os salários. Ou podemos queimar dinheiro. Ou, sei lá, podemos pegar um revólver e matar uns 30 caras. Pessoalmente, prefiro pensar que a compreensão correta dos problemas da sinalização é um objetivo mais interessante.
Claudio
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